A 30 de março de 2021 realizou-se o Webinar “Cidades, Comportamentos, Tecnologia & Comunicação”, evento que procurou refletir sobre as formas de se envolver os cidadãos na vida das cidades e mudar os seus comportamentos, de forma a aumentar a qualidade de vida, fazer crescer a economia e incrementar o funcionamento dos grandes centros urbanos.
Da reflexão aí tida, concluiu-se que tem que passar pelas ciências comportamentais, sempre associadas a uma utilização correta da tecnologia e da comunicação, que seja eficaz e que crie confiança nas pessoas, tendo em conta princípios éticos.
Há muitas oportunidades, mas as entidades públicas ainda têm grandes desafios pela frente.
Falar de cidades, comportamentos, tecnologias e comunicação é falar de comunicação voltada para a mudança comportamental, num processo de inovação que pode ser complexo do ponto de vista ético, mas que é muito produtivo e aumenta a qualidade de vida das pessoas. As cidades são cada vez mais palco de desenvolvimento dos países e, no seu âmbito, a gestão de recursos em áreas distintas como a energia, água, mobilidade e conetividade é essencial. O desafio da gestão das cidades tem que se focar hoje nas pessoas e numa gestão que assenta na tecnologia e na comunicação.
Foi referido que as cidades têm que se reinventar e encontrar um caminho para a neutralidade carbónica, que reclama uma nova agenda sustentável e inteligente.
Mas quais são as questões em cima da mesa? São a forma como se pensa o comportamento dos cidadãos nas cidades e quais são os efeitos desta conceção; o que está errado, como e quando mudar; e que papel para a tecnologia, a comunicação e as ciências na vida das cidades. As premissas do comportamento dos cidadãos nos grandes centros urbanos assentam em três pontos distintos. A começar pela pouca confiança entre cidadãos, passando pela falta de confiança nas instituições locais, com um afastamento face às organizações públicas. Acresce que os recém-chegados têm um capital social reduzido, o que diminui a participação em questões locais e a interação com os atores públicos. A consequência desta realidade é a subutilização do que é oferecido e a falta de pressão para o que é necessário. Os cidadãos não se sentem parte de uma comunidade. Há pouca participação e envolvimento nas questões de interesse local; as pessoas continuam a ter poucas informações sobre as freguesias onde moram, o seu bairro ou mesmo a sua rua. A informação não chega de forma eficaz e no que é relevante, num enquadramento e processo que faz com que as pessoas se afastem.
É que, se há cada vez maior produção de dados e monitorização, a realidade é que não existe uma abordagem comportamental na forma como os policy makers olham para os cidadãos.
Cada pessoa processa as informações, formula juízos e toma decisões assentes em dois sistemas: um que é rápido e automático e outro que é mais lento e reflexivo. Mas se se pensava que este segundo sistema dominava, a realidade mostrou que o primeiro explica mais de 85% a 90% de todas as decisões. Que o ser humano real toma decisões intuitivamente, com pouca atenção consistente, sendo influenciado por detalhes do ambiente que podem até ser considerados irrelevantes. Por isso, para mudar comportamentos, mais do que fornecer informação e incentivos, há que implementar pequenas mudanças no contexto da decisão, de forma a facilitá-la. Não sendo as ferramentas tradicionais da regulação, informação e incentivos efetivos por si só, há que “pensar o comportamento humano real”, com base em insights comportamentais. Estes podem ajudar a criar melhores informações e sistemas de incentivos, assim como melhorar a regulação, com a adoção de formas mais inteligentes. Do ponto de vista ético, a ciências comportamentais devem ser usadas com tecnologias e comunicação, e com “políticas transparentes e publicadas, para que as pessoas possam compreender como é que estas políticas tiveram eficácia”.
Transparência e ética são essenciais: desde que se tenham em conta princípios éticos, é possível impulsionar a mudança de comportamentos. É que não restam dúvidas de que o impacto da tecnologia nas ciências comportamentais pode ser enorme, trazendo consigo muitos desafios, mas também oportunidades.
Foi, ainda, abordado o tema dos riscos de coação e manipulação das pessoas através do acesso aos seus dados e da sua utilização por via da tecnologia. Um tema que tem que ser acautelado, na dimensão das políticas públicas, pela transparência em todo o processo. Por essa via, geram-se melhorias dos comportamentos que são positivas para a sociedade, que necessita de estar cada vez mais envolvida. A responsabilização de quem tem acesso aos dados é outro requisito, porque só isso garante um comportamento ético. Já no que respeita às empresas, não se devem usar as ciências comportamentais “para enganar as pessoas ou influenciar para fazerem algo que é prejudicial”. Não utilizar as ciências comportamentais leva a uma perda de eficiência muito grande na comunicação e no envolvimento das pessoas, com a consequente mudança de comportamentos.
Esta temática, além da sua grande atualidade, pode ter um impacto relevante sobre a forma como o comércio e os serviços de proximidade devem comunicar – de forma efetiva – com os seus consumidores.