João Vieira Lopes garante que o setor ainda estava na “ressaca da pandemia” quando se deparou com uma guerra e agora com inundações, afetando muitos comerciantes. Presidente da CCP admite estar de olhos postos na resposta do Governo.
“Este ano estamos perante a tempestade perfeita. Estávamos na ressaca da pandemia, apareceu o problema da guerra com as consequências que teve em termos de inflação e de falta de alguns produtos, etc. e agora para juntar temos mais esta situação de inundações”. É desta forma que João Vieira Lopes, presidente da Confederação do Comércio e Serviços de Portugal (CCP) reagiu ao i em relação às perdas dos comerciantes que foram afetados pelo mau tempo.
O também parceiro social já pediu ao Governo que fosse definido um plano de emergência, até com base das experiências que já houve, quer durante a pandemia, quer em relação às zonas afetadas pelos incêndios. “Já entrámos em contacto com o secretário de Estado do Turismo do Comércio e Serviços e propusemos que fosse definido um plano de apoio, semelhante ao que foi feito durante a pandemia ou durante os incêndios. A informação que temos é que o Governo está a trabalhar nisso. Entretanto, as associações de diversos sítios têm contactado as câmaras e há algumas, como Oeiras, que já definiram os seus próprios planos de apoio. Estamos à espera que o Conselho de Ministros de hoje apresente algumas medidas nesse sentido e que sejam aplicadas rapidamente”.
João Vieira Lopes aponta para perdas avultadas, uma vez que nem todos têm seguros que cubram de uma forma completa situações destas e admite que isso ainda irá tirar mais o “brilho” à época de Natal que funciona como um balão de oxigénio para o setor. “O comércio de rua é aquele que vai sofrer maior impacto”, diz ao nosso jornal. Quanto aos apoios, refere que sempre “minimizam”, mas chama a atenção para o facto de nunca irem cobrir na totalidade as perdas. “Estamos perante produtos destruídos, instalações danificadas, etc. Só avaliando o que vai ser anunciado e também vai depender das zonas. Todos vimos as imagens de Algés”.
No entanto, afasta qualquer tipo de apoios em forma de empréstimos. “As empresas ainda nem sequer absorveram completamente muitos empréstimos que fizeram durante o período da pandemia. Aumentar o endividamento neste momento não é solução, ainda por cima, numa fase em que as taxas de juro aumentaram”.
Ainda ontem, a União de Associações de Comércio e Serviços (UACS) tinha admitido estar disponível para ajudar os comerciantes com os prejuízos causados pelas cheias na região de Lisboa e apoiá-los junto das entidades governamentais e autarquias. A associação liderada por Carla Salsinha diz que a “ausência de indemnizações aos empresários para cobrir os prejuízos decorrentes das inundações nos estabelecimentos comerciais devem ser tidas em conta e a UACS encontra-se disponível para receber os inventários dos prejuízos causados e lutar perante as entidades governamentais e autarquias pelo apoio aos empresários”, garante, lembrando que estes prejuízos chegam na pior altura: a época natalícia.
Já na terça-feira, o presidente da Câmara Municipal de Lisboa disse que pretendia criar um fundo de, pelo menos, três milhões de euros para apoiar os comerciantes e particulares que sofreram prejuízos, apesar de garantir que o valor “não está fechado”. Ainda assim, Carlos Moedas reconheceu que essa ajuda é “insuficiente” e defendeu a necessidade de o Governo ser célere com os apoios que irá disponibilizar: “O Governo tem de ajudar já. Tem de ser rápido”, referiu, já depois de o primeiro-ministro ter admitido recorrer a um fundo comunitário destinado a catástrofes para fazer face aos prejuízos causados pelo mau tempo.
Também a autarquia de Oeiras já tinha avançado que iria dar um apoio de 1,5 milhões de euros para apoiar os comerciantes afetados pelo mau tempo, ainda antes destas últimas inundações. Aliás, a ministra da Presidência vai estar hoje no concelho para visitar as zonas mais afetadas, depois de ter estado ontem em Loures e de te ter garantido que não iria avançar com o estado de calamidade, esclarecendo que essa não é uma condição para avançar com os apoios que são necessários. “O que é mais importante para os municípios é garantir que o Governo está presente neste apoio, recorrerá a todos os instrumentos nacionais e europeus que existam para estes momentos, na medida em que alcance os patamares definidos”, disse.
Por outro lado, a ministra da Coesão mostrou a sua disponibilidade em ir ao Parlamento para abordar os efeitos do mau tempo, considerando que é “um problema coletivo” que deve preocupar todos os grupos parlamentares, respondendo assim ao pedido.
Individualmente algumas autarquias vão fazendo contas às perdas. À Lusa, a Junta de Freguesia de Benfica avançou que os prejuízos devido às chuvas devem rondar os 1,8 milhões de euros, um valor não muito distante da Câmara de Campo Maior, que fala em “praticamente dois milhões de euros”. Muito acima está Loures que, com o mau tempo desta última semana espera prejuízos de “mais de 20 milhões de euros”, disse a autarquia.
Ainda esta quarta-feira, o comandante da Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil, André Fernandes, revelou que está previsto um novo “agravamento para a madrugada de sexta-feira”. Mas há boas notícias para o fim de semana. “Será um fim de semana com precipitação pouco frequente e geralmente fraca em todo o território continental”, destacou.
Quanto ao balanço avançou que Lisboa voltou a ser o concelho mais afetado pelas fortes chuvas e inundações, com registo de 1437 ocorrências, seguido de Sintra (319), Oeiras (260), Cascais (259), Almada (148), Loures (122), Odivelas (105) e Barreiro (87).
Os prejuízos provocados pelas chuvas dos últimos dias levaram a um aumento de 175% na procura por serviços de reparação de telhados entre os dias 8 e 13 deste mês face à semana anterior. Segundo os dados da Fixando, vazamento e danos causados pela água são a principal causa para estes pedidos.
Só em Lisboa, registaram-se 47 pedidos desde a passada quinta-feira, todos para conserto de dados causados pela chuva intensa que se tem feito sentir na capital. Zonas de vazamento nos telhados ou danos causados pela água são responsáveis por 59% dos pedidos recebidos pela Fixando, seguindo-se rachas ou danos no telhado (22%) e ainda fim do tempo de vida dos telhados (15%).
Lisboa foi o distrito que registou mais pedidos por reparações de telhados (33%), seguido por Setúbal (12%) e pelo Porto (10%). Também Leiria e Santarém foram responsáveis por 8% e 7% dos pedidos recebidos neste período. E a Fixando alerta que o atraso na limpeza e manutenção de telhados é uma das raízes do problema.
Atrás do prejuízo anda também a Infraestruturas de Portugal, garantia dada pelo ministro da tutela. “A Infraestruturas de Portugal fará o levantamento, está a fazer o levantamento de todas as intervenções que forem necessárias”, disse Pedro Nuno Santos no Parlamento, acrescentando que as estradas que se mantêm cortadas “obviamente, ainda não oferecem condições de segurança” para reabrir.